sábado, 25 de outubro de 2008

TELHADOS D'ÁGUA | A ÁGUA


A água que nasce, no meio da mata num pequeno fio que borbulha em gotas. Surge do chão à procura da imensidão. Escorre da serra, altaneira, no silêncio da noite, na escuridão, do útero da terra mãe natureza. Este filho despeja um pingo nascido: infância de rios, de ribeiras e de lagos. E correm para os mares, arrastando lembranças, guardando segredos de amores perfeitos, de amores desfeitos, de amores em vão. Histórias recolhidas em todos os cantos, da aldeia mais pobre à mais poderosa cidade, deixando saudades nas ondas dos rios, na beira dos mares. Pessoas, lugares, conversas trocadas, conversas fiadas das mais variadas, a vida... enfim, tão natural. Em cima da terra, das folhas caídas, fugindo das pedras, trilhando o seu curso, deixando impressões de tantas visões, num transbordo de afectos. Espelhos de águas que reflectem rostos, nem todos narcisos. E os cursos divergem, convergem, no real, no irreal, cativantes, confidentes, sinuosos, aparentes, nas águas correntes deste reino animal.

E ali, selvagem, no mato, a menina nua no banho, despida em pensamento. A água é vermelha, o sangue é fervente que lhe escorre nas veias... Gotas de amor proibido, libertadas sem sentido, turvam essa água escondida. São pingos de gente onde a vida acontece. No ventre da moça, a água renasce, a água cresce e explode em riachos de vida, conquistando o mundo. São águas vadias que procuram mares. Assim é a vida, assim são as águas. Por aqui caminham rios e mares, entre amores e dissabores. Águas doces em busca de peitos abertos, arrastando galhos e flores, de temores, de alegrias e ... A vida ali começa e ali termina. Solitária, mas de muitas cores, de muitos sabores, de muitos caminhos.

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